A CATÁSTROFE ESTEVE IMINENTE EM MACHICO
Reduzida a destroços a Igreja da Ribeira Grande
Às 6 e 40
horas de ontem, desabou a placa do teto da nova igreja paroquial da Ribeira
Grande, em Machico. Segundo tudo leva a concluir, a lamentável ocorrência
deve-se ao abatimento dos selos onde o edifício se encontrava construído. Em
1975, o Senhor Bispo do Funchal, notando algumas fendas nas paredes do templo
ordenou uma inspeção técnica, o que foi, prontamente executado pelo então
pároco Rev. Padre Francisco Xavier Gomes Ribeiro. E conseguiu-se chegar à
conclusão de que as estruturas deveriam ser reforçadas. Nesse sentido, o pároco
encomendou o ferro necessário para se proceder a esse trabalho. Apesar daquela
opinião, as autoridades diocesanas encontravam-se bastante preocupadas, porque
eram evidentes os sinais de abatimento do terreno, de tal maneira que se estava
na eminência da igreja ser encerrada ao culto. Somente não se executou essa
ordem atendendo ao parecer referido.
Por felicidade,
a derrocada deu-se com a igreja vazia. Doutro modo, ter-se-ia consumado enorme
catástrofe, só evitada pela Providência Divina. Ontem, o Senhor D. Francisco
Santana deslocou-se à Ribeira Grande, acompanhado do seu secretário, Rev. Padre
Messias Hipólito e do Rev. Padre José Adalberto Moreira Fernandes.
Ali, o
venerando prelado inteirou-se dos enormes prejuízos causados pelo abatimento do
teto do templo e reuniu com os membros do Conselho Paroquial e outros
paroquianos para iniciar o estudo da melhor solução a dar à construção da
futura igreja.
Assim, bem
poderíamos estar hoje a chorar a perda de muitas vidas, se não fora a proteção
divina, consoante acima referimos. E a corroborar a nossa afirmação basta citar
o fato do Rev. Pároco da Ribeira Grande se encontrar ausente, durante toda a
semana finda, no retiro do clero. Pois, de contrário, estaria, ontem às 6:30h a
celebrar na igreja agora em ruínas. E recorde-se que o desabamento se registou
às 6:40h.
A última
celebração da Eucaristia na Igreja da Ribeira Grande decorreu no passado Domingo,
às 9h. E ao longo do acto litúrgico, os fiéis notaram a queda de caliça,
naturalmente pronunciadora de catástrofe. Só que as pessoas não podiam de modo
nenhum, aperceber-se da dimensão da tragédia que as espreitava e,
providencialmente não as vitimou de maneira bem trágica, bem brutal. Por outro
lado, também não é menos certo que só agora é que as pessoas tal recordam.
Muitos foram
os paroquianos da Ribeira Grande que em pânico, ouviram o medonho estrondo,
provocado pelo abatimento do teto da sua igreja. E a onda de choque foi tão
grande que arrancou a porta do templo e a projetou a grande distância. Até
abriu largos buracos nas paredes laterais.
Todo o
recheio do templo foi destruído. Das imagens só se salvou intacta a de Nossa
Senhora das Preces. O sacrário também nada sofreu. Assim ficaram reduzidos a
pedaços as imagens de Nossa Senhora de Fátima, do Sagrado Coração de Jesus, os
bancos, o harmónio e a pedra de mármore do altar.
Como acima
escrevemos a derrocada alarmou a vizinhança que acorreu em pânico todavia,
paroquianos houve com mais presença de espírito os quais procuraram logo salvar
algo da igreja, embora correndo sério risco de vida. Assim a srª Maria de
Aveiro, com a ajuda de seu filho Estêvão trasladou o Sacrário com o S. S.
Sacramento para a sua residência, bem como a imagem de Nossa Senhora das
Preces.
A igreja da
Ribeira Grande foi construída há 15 anos pelo Rev. Padre Eduardo de Freitas
Nascimento.
O Sacrário manter-se-á
em casa da srª Maria de Aveiro, até ordem em contrário do Senhor Bispo da
Diocese.
E, hoje às
9h será celebrada missa campal, próximo da igreja reduzida a escombros.
De
salientar, de novo, que será constituído um conselho com Sr. Bispo do Funchal
D. Francisco Santana, e o pároco da Ribeira Grande, a fim de se estudarem as
possibilidades de edificação do novo templo, pois as paredes do atual que ainda
se encontram de pé, ameaçam ruína imediata, pelo que serão arrasadas.
D . Francisco Santana leva a resignação à Ribeira Grande
Logo que
teve conhecimento da ocorr~encia o Sr. D. Francisco Santana acompanhado do seu
secretário Rev. Padre Messias Hipólito e do pároco da Ribeira Grande Padre
Adalberto Fernandes seguiu para a
Ribeira Grande a levar a resignação aos paroquianos, que desolados banhados
mesmo em lágrimas não arredavam pé de junto da sua igreja assim tão
abruptamente transformada em ruínas.
E o
venerando Prelado, não contendo a emoção que também o dominava, viu-se rodeado
de homens, mulheres e crianças todos mergulhados na mesma dor.
Era
realmente dilacerante a cena que se nos apresentava: um Bispo intensamente
emocionado a tentar reconfortar corações fendidos pela desdita. Ou não será
desdita ver cair um templo erguido à custa de muito suor e de sacrifícios sem
conta! Uma igreja levantada com imensa fé, com a fé do povo, que jamais deixará
de lutar pela causa da Igreja Católica Apostólica Romana.
E sempre
rodeado dos fiéis, o Bispo do Funchal aproximou-se da entrada do templo, deteve-se
e chorou. Eram bem verdadeiras, sentidas as lágrimas derramadas pelo Prelado da
nossa Diocese.
Mas depressa
se recompôs o corajoso Bispo que deu entrada no templo em destroços e o
fixou atenta
e condoidamente. Em redor de D.
Francisco e misturadas com os escombros, crianças recolhiam as pequenas peças
que escaparam à destruição. De seguida o sr. Bispo dirigiu-se à casa de Maria
de Aveiro, onde permanece o Sacrário. Ali, e em profundo silêncio, ajoelhou e
orou.
Depois os
circunstantes também rezaram com o seu Bispo e beijaram a única imagem poupada
ao abatimento do teto da igreja da Ribeira Grande.
Cá fora o
Sr. D. Francisco Santana contactou com as pessoas mais velhas da paróquia e
ouviu descrições pormenorizadas acerca do desabamento.