quarta-feira, 1 de junho de 2011

Rubrica 50 Anos de História: História do Solar de São Cristóvão - Machico


Sejam Bem - Vindos a mais uma rúbrica especial!
Hoje vamos falar um pouco da história do Solar de São Cristóvão...
O SOLAR E A PARÓQUIA: Este Solar de invocação a São Cristóvão está intimamente ligado à fundação da Paróquia do Piquinho, uma vez que em 1961 quando começou a funcionar a Paróquia, foi exactamente na Capela do Solar de São Cristóvão. Ali funcionou durante 3 anos a sede paroquial, mas desde a fundação que o povo se reuniu para construir a sua igreja, sobre a orientação do estimado Pároco Padre Nascimento.
 A partir de 1964 a Paróquia muda-se do Solar para o piso inferior da Igreja (Salão) onde funciona até estar concluída a igreja em 1967.
De referir que o último proprietário do Solar, escritor Carlos Cristóvão doou terrenos para a construção da actual igreja paroquial.
No tempo em que funcionou a Paróquia no Solar, este estava muito degradado, talvez essa umas das razões pelo qual o Solar foi doado à Região e não à Paróquia. Através da doação a DRAC realizou uma grande obra de restauro...

O SOLAR E A IRMÃ MARY JANE WILSON: Este Solar também foi a casa onde a Irmã Mary Jane Wilson fundou uma escola, a que mais tarde se chamaria Escola Quinta de Santa Ana, e noutras instalações. "O Vigário de Machico, Pe. Jacinto da Conceição Nunes, pediu a D. Manuel Agostinho Barreto, Bispo do Funchal, que se dignasse enviar Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, para estabelecerem uma Escola de S. Francisco de Sales em Machico. Assim a 8 de Setembro de 1904, na Quinta de S. Cristóvão, a Irmã Jane Wilson presidiu à fundação desta escola. No entanto na revolução republicana de 1910, as Irmãs foram obrigadas a encerrar a escola. As crianças ficaram sem as suas professoras e Machico teve de esperar duas décadas, para que as Irmãs voltassemà escola. Na clandestinidade a escola continuou." In Centenário da Escola de Santa Ana.

O SOLAR E A SUA HISTÓRIA:
   * Morgados de São Cristóvão: (Foto do retábulo do interior da capela) Óleo sobre tela 3,70x 1,90 m.
Este retábulo foi feito provavelmente por volta de 1692, época da construção da capela, e restaurado cerca de 1940 por Artur Silva. No lado inferior podemos ver as armas da família, o escudo esquartelado de: ?, Moniz, Meneses e Barreto(?).
Em oração está a família dos morgados de São Cristóvão (da esquerda para a direita): Padre Francisco Moniz de Meneses, capelão do solar; Frei Pedro do Espírito Santo, do convento de S. Francisco ; Cónego Luís de Meneses, do cabido da Sé; morgado António Luís de Meneses; morgado Cristóvão Luís de Meneses, « o grande»; D. Francisca da Câmara de Agrela Lomelino; D. Antónia da Guerra; D. Antónia, freira em Santa Clara; D. Francisca Xavier Moniz de Meneses, neta do Morgado.

* Linha de Sucessão do Solar:  
Na linha de sucessão desta casa encontram-se Cristóvão Moniz de Meneses, construtor da casa e capela edificadas para seus filhos, Luís e Francisco, ambos padres, tendo a propriedade passado posteriormente para António Moniz de Meneses e para a sua filha D. Francisca Xavier que, embora tenha casado, morreu de parto sem descendentes.

O vínculo passou a um neto de sua tia avó, D. Isabel de Meneses, Manuel de Meneses, tendo-lhe sucedido seu único filho, Matias Cristóvão de Meneses, e a este sua filha, D. Mariana Francisca de Meneses, que, por sua vez, passou a casa para D. Maria Esmeraldo da Câmara, sua única filha e herdeira. D. Maria Esmeraldo da Câmara, a cima citada, casou com o seu primo, o tenente- coronel Francisco da Câmara Leme, de quem teve Luís da Câmara Leme, oitavo morgado de São Cristóvão, tendo o solar passado sucessivamente ao filho do anterior, do mesmo nome, e depois o seu neto Cristóvão Esmeraldo da Câmara Leme. Este, sem filho varão, deixou a casa e capela a sua filha segunda, D. Maria da Câmara Leme, que, falecendo sem descendência passou a quinta de São Cristóvão ao filho mais velho de sua irmã, Francisco Pedro de Bettencourt que, morreu antes de sua tia, deixou a propriedade de São Cristóvão para o filho de Francisco Pedro de Bettencourt e de D. Gabriela Helena da Cãmara Leme Escórcio Drumond de Gouveia, Carlos Cristóvão, e também para D. Cecília Esmeraldo.
Por morte desta última, ficou proprietário exclusivo do solar Carlos Cristóvão da Câmara Leme Escórsio de Bettencourt “1924 – 1998”, poeta e escritor, autor de uma novela, A NETA DO MORGADO, 1967, onde narrava a história da família. Em 13 de Março de 1987 doou à Região Autónma da Madeira o recheio, a capela e o solar, actualmente classificados Património Cultural da Região (Resolução nº 827-98,7.7.1998).
SOLAR E O SEU RESTAURO: Como Carlos Cristóvão disse um dia, "o pior mal que pode acontecer a uma casa é deixar-lhe chover dentro",  isto mostrou a impossibilidade do último proprietário do Solar o poder restaurar. Ele numa das suas obras, refere que mandou pintar algumas cantarias de forma a poder fazer alguma coisa pelo estado avançado de degradação, e nas fotos que apresentamos em seguida que são de 1985, é visível que este Solar estava mesmo muito degradado.
Como é possível verificarmos nestas imagens da DRAC, o Solar estava em estado avançado de degradação apesar de a sua estrutura não estar afectada. Em algumas fotos é possível verificarmos os inícios dos trabalhos de restauro.
Olhando para estas imagens, podemos imaginar as suas gentes primitivas ali a viver, todas as pessoas que por ali passaram, mas o importante foi mesmo preservar este rico património.

O SOLAR APÓS O RESTAURO: O restauro deste imóvel foi um exemplo, pois numa primeira fase restaurou-se apenas a casa, sendo que depois esta permaneceu encerrada por alguns anos, pois não se sabia exactamente o que fazer ali.
Por vontade do proprietário era para ser instalado ali um Museu de Carlos Cristóvão, depois falou-se em abrir Lar para Idosos, em entregar para os serviços da paróquia, muitas ideias foram lançadas e estava outra vez o Solar fechado.
Após as muitas polémicas ali funcionou durante algum tempo, na capela e algumas salas o Conservatório de Música de Machico, e uma das grandes dificuldades de implementar ali uma das muitas ideias foi a localização do Solar e os acessos.
Após alguns anos o Jardim do Solar sofre um restauro e já existia uma ideia para ali implementar a CASA DO ARTISTA, onde permanecem ali durante algum tempo artistas do Mundo onde podem se inspirar e realizarem os seus trabalhos e com a condição de doarem uma peça para o Solar.

FESTA DE SÃO CRISTÓVÃO: Desde sempre o Povo de Machico realizou romagens e festas a este Santo ao longo destes mais de 300 anos de história. Depois com certeza que se perdeu no tempo esta tradição, sendo recuperada pelo então Pároco do Piquinho, Padre José Afonso Rodrigues que realizava a Festa na Igreja Paroquial, sendo que iam à capela buscar a imagem do santo, foi também este pároco que idealizou a já tradicional procissão de automóvel pelas ruas de Machico.
Posteriormente já no tempo do Padre Manuel Carlos a festa passou a se realizar na Capela e Solar de São Cristóvão, mas o espaço era mínimo, o jardins ainda não tinham sido arranjados e ambicionavam um espaço maior.
Já em 2006 ou 2007? no tempo do actual Pároco o Governo realizou uma pequena obra de apoio, onde é possível realizar a festa e também estacionar aquando da realização de casamentos e outras actividades.
A festa cresceu a cada ano e hoje em dia é uma festa muito conhecida.

O SOLAR NA ACTUALIDADE: Actualmente o Solar continua a ser A CASA DO ARTISTA, mas parece que está a ser mal divulgada e orientada. No princípio da sua inauguração o Solar servia para festas, muitos casamentos dada a sua beleza, mas com o passar dos anos estamos a assistir a um completo abandono.
 Estou a falar relativamente á manutenção do Solar, quer a nível das pinturas exteriores, onde actualmente já nem sabemos que cor é aquela e o abandono a que os jardins estão vetados.
Com a falta de manutenção, dadas as últimas intempéries as árvores centenárias foram caindo, uma situação estranha uma vez que cairam cerca de 3 grandes árvores nestes 2 anos últimos. Para acrescentar a isto os jardins estão selvagens e com ervas por todo o lado. Parece mentira esta actual situação, uma vez que o Solar tem pessoas responsáveis pela sua manutenção.
Esperemos que algo seja feito, um plano de plantação de novas árvores, manutenção dos jardins e pintura do Solar, uma vez que o brilho da quinta já desapareceu e actualmente existe uma grande diferença para pior, infelizmente... 
Estamos no fima da nossa rubrica especial 50 Anos de História, aqui verificamos que a história está sempre ligada às sociedades, neste caso verificamos a história de um Solar que muitos podem conhecer enquanto edifício, mas desconhecer a sua essência a sua história.
Aqui desenvolveu-se a acção apostólica através de uma escola, aqui foi a sede da Paróquia do Piquinho, funcionou enquanto casa histórica com mais de 319 anos, conservatório e actualmente funciona como a Casa do Artista.
No fim desta rubrica quero manifestar a grande importância histórica deste Solar, mas também constatar e alertar para o facto de se estar a abandonar novamente este Solar, com os seus jardins abandonados. Algo tem de ser feito, nem para a festa do santo padroeiro se realizaram limpezas e arranjos de jardins. Isto não pode ficar esquecido pela DRAC e Secretaria Regional do Turismo.

Por: Patrício Sousa

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