domingo, 16 de janeiro de 2011

Perda de emprego tira condição de legalidade aos imigrantes

António Vitorino afirma que imigrantes são as primeiras vítimas da crise .

António Vitorino considera que os imigrantes são as primeiras vítimas da crise actual porque, ao perderem o seu posto de trabalho, podem passar de totalmente integrados a irregulares, com a ameaça de, por essa causa, serem obrigados a voltar aos países de origem.

O antigo Comissário Europeu lembrou, no XI encontro de formação de agentes sócio-pastorais das migrações que decorre em Fátima entre os dias 14 e 16 de Janeiro, que o contexto de crise actual obriga muitos autóctones a trabalharem em empregos muitas vezes deixados para os imigrantes.

Para António Vitorino, no contexto actual, as populações que acolhem “não se podem dar ao luxo de prescindir de determinados postos de trabalho”, aumentando a concorrência a esses empregos.

“Pode haver tensões acrescidas no acesso ao mercado de trabalho em períodos de escassez de emprego. Não podemos ser ingénuos e ignorar esse facto”, afirmou.

Se esse é, por um lado, um motivo de tensão na coesão social, não deixa de ser uma ameaça à presença de imigrantes totalmente integrados nos países de acolhimento.

Para António Vitorino, é necessário prestar protecção social aos imigrantes que, por estarem agora no desemprego, voltaram a uma situação irregular depois de terem trabalho e de terem descontado para o sistema de segurança social português.

“Temos de partir de alguns valores e princípios: aqueles que contribuíram para o desenvolvimento da nossa sociedade, pagaram os seus impostos, a segurança social, mesmo estando em risco social de desemprego, têm direito á solidariedade do país para o qual contribuíram, embora esse não seja o seu país”, sustentou.

Os perigos que afectam trabalhadores imigrantes em Portugal por causa da crise já foram experimentados por portugueses em locais de emigração. António Vitorino recordou tensões numa obra de uma refinaria inglesa, onde os autóctones não aceitavam trabalhadores imigrantes, entre os quais estavam portugueses.

O antigo comissário recordou também a preocupação que deve despertar o facto de, nestes dias, estar a ser distribuído um panfleto no Luxemburgo contra os trabalhadores portugueses, que constituem 20% da população do país e em total integração

“Eu espero que os portugueses no tratamento destas tensões que podem surgir aqui no nosso país não esqueçam que tensões exactamente iguais podem surgir noutros países, com a diferença de que os portugueses aí estão do outro lado da barricada”, frisou.

O encontro de formação de agentes sócio-pastorais das migrações é promovido pela Agência Ecclesia, a Cáritas Portuguesa e a Obra Católica Portuguesa de Migrações. A XI edição desta iniciativa debate o tema “Primeira década de uma nova era das migrações”.

Fonte: Agência Ecclesia

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